O Corpo narra a história de dois homens que têm que lidar com um cadáver e ao mesmo tempo com seus próprios corpos e suas vívidas significações. O corpo está morto, mas igualmente vivo nas limitações sem fronteiras que ele inerentemente possui, buscando, na profundeza desconhecida, aquilo que pode, por um momento ínfimo, escapar do ritmo silencioso do inevitável, resultando numa queda infinita e brutal dentro do trivial. Nessa queda, personagens perdem-se numa conversa ociosa, não agindo frente à situação desesperada que têm em mãos. A batalha da situação que os acossa é apagada pelo desemparo na projeção de seus futuros: escapar está profundamente instalado dentro da consciência, e a consciência se acha nas fronteiras do corpo. A rígida nulidade inarticulada no centro de nossas desesperações coletivas nos leva à vulgaridade e singularidade concomitantes de nossa própria existência: cegamente definhando, balançando nossos esqueletos de um lado para outro, descansando nossas cabeças sobre os travesseiros da ignorância e degradação, a violência de nossa ávida necessidade de constante compensação por nossas inabilidades e deficiências. O corpo acéfalo, que de fato articula seus membros, tem inscrito em sua paisagem, desde o momento de sua concepção, a certeza da morte. Esse “corpo morto” na trama é a própria armadilha apresentada pela impossibilidade de visualização clara dessa certeza desfocada. E como tal, os personagens chafurdam-se em um nada infinito, desprovido de um tempo mensurável, sujeitos a uma alteração entre a consciência da gravidade da situação e o escapismo da trivialidade.
O Corpo
Direção: Rodrigo Lopes de Barros
Elenco: João Pedro Garcia, Luiz Henrique Cudo, George França
Dois homens, um corpo. A decisão é o insuportável.
Ano: 2007 / 2012.