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Pré-histórias, 2

(censuradas & extemporâneas)
por Veronica Stigger

Quantas vezes, ao andarmos pelas ruas de nossas cidades, não acabamos escutando, um pouco por acaso, um tanto por curiosidade, fragmentos de conversas alheias que ficam a ressoar na memória do passante? Estas falas, justamente por nos chegarem fracionadas, em cacos ou lampejos, têm sempre um quê de enigma, sugerindo, ao ouvinte imaginoso, histórias potenciais, ficções embrionárias. De 18 a 28 de novembro, apresentei, nos tapumes da futura unidade 24 de Maio, no centro de São Paulo, dentro da programação da Mostra SESC de Artes, a instalação Pré-histórias, 2, na qual propunha uma reunião dessas frases ouvidas aqui e ali, numa espécie de arqueologia da linguagem do presente, em busca da poesia inesperada − dura ou terna, ingênua ou irônica − que pudesse haver em meio a nossos costumeiros diálogos sobre a tríade sangue, sexo, grana (aliás, título original do trabalho).

Como se tratava de um espaço institucional em área pública, alguns textos não puderam ser exibidos, especialmente aqueles de temática explicitamente sexual ou que usavam palavrões. Cheguei a incorporar à instalação dois comentários irônicos a esta censura. “Não imagina / o que ficou / de fora”, dizia o primeiro. “Não pode. / Por que não pode? / Porque não pode”, brincava o segundo. Publicam-se aqui os fragmentos censurados, ao lado de outros que foram escritos depois de montado o trabalho. Futuramente, o conjunto dos textos deve ser publicado em livro sob o título Delírio de Damasco.

[Nota dos editores: as imagens contidas nesta edição são fotos (tiradas por Eduardo Sterzi) editadas de algumas das Pré-histórias apresentadas no SESC/SP]

Daria
o cu
por uma torta de chocolate.

Eu já comi a Raquel.
Já comi a Nara.
E a Maria? Também comi.

Vai ter brigadeiro de vagina,
beijinho de pênis
e muita champanhe.



Foi um horror:
cortaram-lhe
a joãogular.

Antes
assassinato
que suicídio.

Depois do paraíso,
ele vai
para onde?


Pra que você
precisa de salário?
Pra comprar roupa.

Minha mãe rezava
para que eu não
namorasse uma negra.

Mas onde foi?
Na bunda,
ela respondeu.

E aí ela berrou:
“Tchau,
pauzão!”


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é um panfleto político-cultural, publicado pela editora Cultura e Barbárie: http://www.culturaebarbarie.org
De periodicidade quinzenal, está na rede desde janeiro de 2009.
Editores: Alexandre Nodari e Flávia Cera.