Northrop Frye, teórico canadense, estabeleceu uma co-nexão entre a morte e a différance que se deve reconfigu-rar. Segundo o autor, o epitáfio é forma mais primitiva de poesia visual; ademais, manifesta o princípio derridiano da différance: a diferença entre o epitáfio e quem o olha (morto-vivo) e o aviso de que em breve a morte chegará. Parafraseando Frye, diríamos igualmente que, como o epitáfio, a performance do espírito de um antepassado (às vezes tornado diabo) – poderíamos falar também da Umbanda, com suas Pombagiras, Preto-Velhos, Caboclos e assim por diante, além dos Egungun africanos – é um espaço diferencial: “stop and look at me; I’m dead and you’re alive (difference), but you’ll soon be dead too (deferral)”. Mas ao contrário do epitáfio, o espírito ressurge, ressuscita, visita os vivos e lhes executa uma performance. Não seria então uma différance mais que derridiana(?). Posso arriscar uma resposta provisória: se o espírito ancestral retorna, significa que ela/ele, e conjuntamente nós, naquele instante presenciando ou mesmo no próprio êxtase da possessão, somos imortais e, portanto, testemunhamos, num tempo mais curto que de um relâmpago, a morte adiada e diferida eternamente, imortalidade na figura do espírito que volta. Mais do que o epitáfio, o qual anuncia que cedo ou tarde encontraremos a morte, a possessão é o diferimento infinito da própria morte (através da imortalidade do espírito) e o encontro com o diferente e radicalmente outro. Isto é sem dúvida um paradoxo aparentemente insolúvel (morto/vivo, zumbi/cidadão): uma performance da différance.
[Cf. FICHA CATALOGRÁFICA]