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Flávio de Carvalho foi um artista inclassificável. Contemporâneo aos modernistas Oswald e Mario de Andrade, Flávio, no entanto, pode ser considerado um modernista periférico. Gilberto Freyre no prefácio a Os Ossos do Mundo dizia que Flávio de Carvalho era o primeiro pós-modernista. Engenheiro, arquiteto, artista plástico, escritor, delegado antropófago, entre outras atribuições possíveis, Flávio de Carvalho foi uma figura intempestiva. Em 1931, Flávio de Carvalho atravessa na contramão e de chapéu uma procissão de Corpus Christi. A experiência é descrita e analisada no mesmo ano em seu livro Experiência nº 2. Em 1933, Carvalho lidera o CAM (Clube dos Artistas Modernos) onde realiza uma série de conferências e exposições. Dentro do CAM, Flávio cria o Teatro da Experiência e encena, depois de longos dias tentando conseguir autorização da polícia, uma peça de sua autoria: O Bailado do Deus Morto. No ano seguinte, Flávio parte para Europa e publica, em 1936, impressões da sua viagem em Os Ossos do Mundo. Em 1956, Flávio começa a publicar no Diário de S. Paulo uma série de textos sobre “a moda e o novo homem”. Sua intenção era reunir esses textos em um livro sob o título Dialética da Moda. O livro, entretanto, foi publicado somente em 2010 pela editora Azougue. Ainda em 1956, Flávio cria o “new look”, um traje de verão adequado para os homens dos trópicos, composto por uma saia, uma blusa de mangas bufantes, sandália, e uma meia-arrastão que era opcional. A experiência nº 3 é o desfile de Carvalho pelas ruas de São Paulo com seu “new look” que gerou, evidentemente, críticas de todos os tons. A experiência nº 4 acontece em 1958 quando o artista parte para uma expedição de primeiro contato com uma tribo do alto rio Negro. Além das experiências, Flávio participou de uma série de concursos arquitetônicos com projetos jamais aprovados. Sua atuação nas artes plásticas tem a marca forte da Série Trágica de 1947 formada por nove desenhos de sua mãe morrendo. A pintura demoníaca ao invés da operática, a antropomorfia ao invés de Deus, a intensidade ao invés da forma, o homem nu, a antropofagia, fizeram de Flávio, sem dúvida, o mais dionisíaco dos modernistas. Notas para a reconstrução de um mundo perdido é um conjunto de 65 textos de Flávio de Carvalho publicados no Diário de S. Paulo entre janeiro de 1957 e setembro de 1958. Os primeiros vinte e quatro textos da série aparecem sob o título Os gatos de Roma. A partir da nota 25, a série passa a ser intitulada Notas para a reconstrução de um mundo perdido. A republicação dessas Notas no Sopro não pretende trazer um material de arquivo morto, ao contrário: a aposta é lançar esse pensamento intempestivo e fascinante para que ele produza efeitos no presente. O que podemos adiantar é que se trata de um trabalho ambicioso realizado por um “arqueólogo mal-comportado”, como Flávio mesmo se definiu. As Notas foram reproduzidas e transcritas por Flávia Cera, a partir de pesquisa realizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo.


[Plano das Notas]
I - O sorriso inicial do Império Romano
II -Vila Julia – Sonambulismo da História
III - As feridas abertas da arqueologia – O europeu quer a guerra

IV - Os Cesares do Império Vermelho
V - As forças fundamentais do Destino Histórico
VI - O culto do herói, o gótico e o barroco
VII - O Sonho e o Herói
VIII - A Floresta e o Barroco
IX - A simulação, a Floresta e o Primeiro Temperamento – A Descida da Árvore
X - A mentira e o Soluço do Mundo – A Dança Nasceu na Floresta
XI - O Bailado do Silêncio
XII - O primeiro chefe e a floresta
XIII - O Samba, a Praça e a Floresta
XIV - O Bailado e o crime
XV - A alegria e o Crime
XVI - O Crime, a Floresta e a Memória da Espécie
XVII - Ritmo e Memória
XVIII - Atrás da Linguagem
XIX - Sono, Pensamento e Sonho
XX - O Homem-Árvore
XXI - O Espelho do Homem
XXII - A Imagem no Espelho
XXIII - A Pantomima e o Espelho
XXIV - Imitação e Espelho
XXV - A imagem do chefe no espelho
XXVI - O pânico, o aplauso e o chefe
XXVII - O Homem e a sua Alma
XXVIII - A dupla personalidade
XXIX - A dupla personalidade e a alma
XXX - Nas fronteiras do bem e do mal
XXXI - Nas portas do país do sonho
XXXII - Ainda nas portas do país do sonho
XXXIII - Dentro do país do sonho
XXXIV - O trimestre bobo
XXXV - O frio, o som e o trimestre bobo
XXXVI - O sorriso e o trimestre bobo


 


é um panfleto político-cultural, publicado pela editora Cultura e Barbárie: http://www.culturaebarbarie.org
De periodicidade quinzenal, está na rede desde janeiro de 2009.
Editores: Alexandre Nodari e Flávia Cera.